Por Soraia Guimarães
Gostaria de iniciar nossa reflexão pela palavra “COMUNICAÇÃO”.
Se a dividirmos, podemos encontrar: “Como-Única-Ação”. Ou seja, a comunicação acontece de qualquer jeito, em qualquer lugar, com todas as pessoas, seres vivos e o ambiente, independente do nosso desejo ou percepção, englobando a transmissão e a recepção de informações, mensagens, ideias, sentimentos, sensações, atos etc.
E você deve estar se perguntando: o que a arquitetura tem a ver com a comunicação?
Os espaços são comunicantes, assim como as pessoas e toda a natureza. E como um elemento comunicante, ele se relaciona conosco e com tudo a sua volta, o tempo todo.
Essa comunicação transcende em muito apenas o nível visual, comunicando também através de todas as formas sensoriais. A casa é um organismo vivo, que pulsa, respira e necessita de cuidados diários para se manter e nos manter saudáveis.
Se tivermos amplas aberturas para o exterior, onde a luz do sol e a ventilação possam cumprir o seu papel de iluminar, higienizar e tornar o ar interno agradável, isso por si só já realizará uma comunicação positiva em nossa mente e corpo, pois eles reconhecem essa conexão natural, que traz a sensação de segurança, bem estar e proteção.
A utilização de tintas, pisos e demais materiais, livres de metais pesados, formaldeídos e compostos orgânicos voláteis (COV), também tem o importante papel de evitar doenças, possibilitando ao nosso organismo um melhor equilíbrio geral da saúde.
Com o excesso de informações que temos que processar no mundo de hoje, quanto mais tranquilidade e calma o ambiente proporcionar, mais adequado será para a promoção da saúde e bem estar, evitando os efeitos da fadiga mental e emocional que um ambiente muito cheio, sombrio e com materiais tóxicos poderá causar.
Fatores como uma boa circulação, proximidade, visibilidade, profundidade, alturas, ar puro, ventilação natural, incidência solar e demais características do ambiente construído, parecem de fato influenciar na forma como as pessoas interagem entre si e com o edifício. Podemos aqui traçar um paralelo entre a biologia, com seus vasos comunicantes e a arquitetura, com seus espaços comunicantes, relacionados e organizados em função de um objetivo comum a ser partilhado.
É sobre projetar os ambientes tendo em mente o quanto eles impactam a saúde e a vida das pessoas. Os ambientes tem uma forte influência nos relacionamentos e na comunicação, podendo estimular a sua integração e convívio ou seu isolamento e introversão.
Entendendo como o cérebro se atenta e percebe as coisas a sua volta, podemos pensar na construção de ambientes mais saudáveis. A ideia é que as pessoas que adentrem o espaço construído se sintam bem, sem nem saberem o porquê, sendo essa sensação um diagnóstico eficaz para uma boa edificação.
A arquitetura também é uma arte e como tal, gera uma resposta imediata e prolongada em nós, provocando emoções, “insights”, sensações, impressões e sentimentos.
Considerando que hoje em dia vivemos a maior parte do tempo em ambientes fechados, as decisões de um projeto são tão importantes para a nossa saúde, quanto as de um médico ou terapeuta. Essas decisões precisam então, estarem direcionadas a projetar os espaços de maneira a promover a qualidade de vida e a saúde, interna e externamente.
O ambiente em que vivemos nunca é neutro. Ele sempre vai impactar de forma positiva ou negativa em nossa saúde. E para que o ato de projetar seja efetivo, precisamos entender a comunicação arquiteto-cliente-ambiente-natureza-mundo de forma mais holística, ampliando o nosso olhar.
Entre o que se pensa, o que se diz e o que o outro entende, existe um universo de possibilidades. E o universo de cada um é único, com suas heranças familiares, crenças, aprendizados, traumas, alegrias… Criar um espaço personalizado envolve essa gama de percepções pessoais do outro, de nós mesmos e da região geográfica a ser trabalhada.
É fundamental levar em consideração a experiência da outra pessoa, buscando ouvir, observar e captar o máximo possível de informações e percepções. Por exemplo: a cor amarela normalmente está relacionada ao aconchego, atenção e foco; mas para uma pessoa específica, ela pode trazer tristeza, por algo vivenciado, pois as nossas experiências moldam a nossa percepção.
A comunicação é um instrumento para o desenvolvimento e a harmonia. E a comunicação da arquitetura tem efeitos sobre nós: mentais, físicos, emocionais e sobre essa interação com o espaço e os relacionamentos dentro dele, sendo este um meio de ligação com a natureza, a sociedade e consigo mesmo.
Para criar relações saudáveis dentro de um ambiente, este precisa ser leve, acolhedor, harmônico e recheado de sensações de afetividade e confiança. E para gerar essa positividade é fundamental a proximidade com a natureza, trazendo-a para perto, dentro e fora da edificação. Nosso padrão, enquanto seres humanos, é a natureza. Livre, aberta, ensolarada, fresca, flexível, curva, colorida, cheia de perfumes, úmida, seca, atenta às estações e suas características. Sendo assim, para termos mais saúde e equilíbrio, quanto mais voltarmos ao padrão, mais sucesso teremos nesse intento.
Estudos realizados em ambientes de saúde comprovam que os pacientes que tem uma bela vista para a natureza precisam de menos medicamentos para dor, reduzem o tempo de internamento, recuperam-se melhor e tem o humor elevado.
Com esse exemplo, concluímos nossa mensagem de um despertar para o que é essencial à vida.
E o que é essencial à vida está aí, a nossa volta, o tempo todo: A NATUREZA!
“As realidades que hoje vivemos, ontem foram tão somente utopias. As utopias de hoje estão destinadas a ser as realidades de amanhã.”
(Mariano Bueno, autor de “O grande livro da casa saudável”, a bíblia da construção saudável)
SORAIA GUIMARÃES
Arquiteta e Urbanista
Consultora de Ambientes
Projetos e Consultorias (consultorias online)
Obs.: Artigo cedido pelo autor, para publicação no Instituto Amadurecer.
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